A Origem da Alheira

Alheiras
Diz-se que a origem da alheira remonta aos fins do século XV e princípios do século XVI e está associada à presença dos judeus em Trás-os-Montes. Por não comerem carne de porco, os judeus não faziam nem fumavam os habituais enchidos, sendo assim facilmente identificáveis pela Inquisição. Decidiram assim pegar noutros tipos de carnes e envolvê-las numa massa de pão para criar a alheira. A receita acabou por se popularizar entre os cristãos, que lhe acrescentaram enfim a carne de porco.
Esta ideia de associar o aparecimento da alheira aos judeus fixados próximo da zona raiana, para facilmente fugirem para Espanha, parece querer justificar a prática da alheira mais ajustada à terra fria transmontana.

A suposta ligação da alheira com os cristãos novos talvez não passe de uma ideia romântica popular, e não há factos concludentes que a suportem. Parece mais certo que o seu aparecimento esteja ligado ao próprio ciclo de produção de fumeiros caseiros, ou simplesmente à necessidade de conservação das carnes dos diversos animais criados e para consumo próprio.

Segundo Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, a necessidade ajuda ao engenho, e fruto da perseguição que eram permanentemente alvo pela Inquisição, os judeus, "...não podendo estes comer carne de porco por imposição da sua fé, imaginaram um enchido, que, embora semelhante aos enchidos que por essa época eram o prato forte das gentes, não levasse a carne proibida." O Abade de Baçal chegou a designar a alheira como o chouriço judeu. Manuel Mendes, chamando-lhe chouriça da resistência, vem também Referir a origem da alheira no século XV, produto da necessidade de judeus e cristãos novos fingirem consumir um enchido, mas sem carne de porco. A alheira conteria várias carnes incluindo muita caça.

José Leite de Vasconcelos, na sua Etnografia Portuguesa, referencia a alheira no capítulo dos alimentos de origem animal e como enchido de porco. Na sua perspetiva as alheiras também eram chamadas de "Tabafeiras".

O Abade de Baçal também se refere às alheiras, sempre, associadas à matança e um enchido de carnes. Para a Exposição Portuguesa em Sevilha em 1929, na brochura escrita sobre Trás-os-Montes, refere que em Bragança "se notabilizam como pitéus regionais deliciosos, de fama geral em todo o País tabafeias, fabricadas desde Outubro a Fevereiro..."

O termo alheira ficou associado, em todo o país, à tecnologia fabriqueira das "toucinheiras" mirandelenses ["chouriço de pão levedado em pouco fermento, carnes de capoeira e de cortelho, às vezes abonadas de um chichado de caça miúda, com um bom aviamento de banha do reco, azeite bastante, cebola e salsa esfarrapada nem sempre, alhos bem esmagados, raramente pimenta branca, sal e colorau doce ou picante"].

O espírito empreendedor das gentes de Mirandela levou a que o fabrico e a comercialização da alheira se desenvolvesse em torno da sua cidade, tendo atingidos níveis de genuinidade muito apreciados hoje em dia. Talvez tenha sido esse motivo que fez com que a alheira ficasse historicamente ligada à cidade de Mirandela.